Você saiu e ainda não fez o favor de bater a porta com força, como quem diz:não voltar nunca mais.
Mas porque não me deleta da tua agenda?
O que é?
Te incomoda que eu te esqueça?
Que eu não te procure nunca mais?
Que nos tornemos dois desconhecidos?
Que um dia qualquer meus ouvidos estranhem a tua voz, e que a boca, involuntariamente ao atendê-lo, pergunte:
- Quem fala?
Que eu te encontre por essas esquinas, e os meus olhos não reconheçam os teus?
- Se é que um dia eles se enxergaram…digo, de verdade.
Foram apenas apresentados por nós, e por nós mesmos também afastados. Mas os meus se foram loucos… para olharem pra trás, foram querendo ficar.
- Faça-me um favor…?
Não comunique-se com nenhum dos meus sentidos. Nenhum !
Pois depois que falam contigo, correm direto ao coração pra contar- me de ti.
E lá é perigoso. Pra mim.
Odeio o teu papo-furado e as tuas perguntas repetidas.
Odeio também ter que me repetir nas respostas, e às vezes, por descuido nelas me entregar mais-uma-vez.
Odeio ainda tremer, mesmo nos dias quentes, com essa tua voz!
Odeio querer achar segundas intenções nas tuas frases, e odeio mais ainda quando as encontro.
Odeio ter que perder meu tempo depois, tentando juntar o que me disse.Sem razão.
Odeio, odeio! Me sentir refém do que sinto…
Você deve saber o reboliço que causa aqui, e faz de propósito.
E que raiva sinto de mim por te escutar! Por querer te escutar!
Entenda, que quero você bem, mas não quero sabê-lo!
AAAAHH se eu pudesse me desligar, te desligar de mim! Como no telefone...
Num clic. Só com a cara e a coragem esquecer.
Tudo isso desassossega-me o juízo.
Começo a lembrar, enxergar, escutar, sentir demais.
Odeio odiar todas essas coisas, e mais ainda não te odiar, te querer. Não te possuir.
Odeio essa contradição, que eu entendo.
Odeio, sobretudo, quando pulas fora de mim, e te vejo concreto no papel.
Odeio quando você se torna a minha inspiração pra escrever!
É. Gosto de você.
Ainda.
Constatação.
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